Por Davi Andrade
Há cerca de 10 ou 15 anos era comum nos depararmos com a falta de espaço nas mídias que tínhamos à disposição, pois essas mídias tinham espaço bastante limitado e era muito dispendioso adquirir novas mídias ou trabalhoso manter todos os dados em CD’s, DVD’s, pendrives etc. Isso fazia com que fôssemos um pouco mais seletivos quanto a armazenar esses dados. Pensávamos, antes de gravar no disco rígido do nosso computador, se aquela informação realmente valida a pena ser guardada ou se aquele programa era realmente necessário a ponto de justificar sua instalação. Só para lembrar, naquela época, um computador com 1 terabyte de espaço em HD era algo quase surreal.
Eis que nos dias atuais essa preocupação parece não existir mais, pois os discos rígidos cresceram, a internet ficou mais (muito) mais rápida e o armazenamento em nuvem beira o infinito, aliás, algumas empresas oferecem exatamente isso, planos com espaço ilimitado. Então, por que se preocupar com o que arquivamos, gravamos ou instalamos, se o importante é ter tudo à mão quando precisarmos? É que isso acaba gerando um outro problema: já que o espaço é ilimitado e a quantidade de informação é enorme, será que temos capacidade de gerenciar e absorver toda essa informação?
Vou contar aqui um caso real que acompanhei recentemente: trata-se de uma empresa que acompanhei por cerca de 3 anos, desde sua fundação. Era uma empresa com pequena estrutura física e poucas pessoas envolvidas, não mais que 10, em seu momento de maior atividade. O fato é que, durante esses 3 anos de atividade, ela acumulou mais de 500 mil arquivos em seu servidor, arquivos esses de vários tamanhos, desde 1kB a 50GB. A questão do espaço aqui, neste análise, não me chama tanto a atenção, mas a quantidade de arquivos é que, de certa forma, me assusta, pois, como um grupo de cerca de apenas 10 pessoas podem gerar ou assimilar tanta informação em tão pouco tempo? É óbvio que isso não é possível. Só para termos uma ideia do que isso representa, se fizermos um cálculo grosseiro, dividindo-se o número de arquivos armazenados pelos números de dias úteis nesses 3 anos, teríamos algo em torno de 650 arquivos armazenados diariamente, em média. Significa que a cada hora de trabalho, foram gerados ou simplesmente armazenados cerca de 80 arquivos com informações das mais diversas. Olhando, hoje, para os arquivos que foram armazenados ao longo desse tempo, chego à conclusão de que mais da metade não precisaria ter sido guardada, são, simplesmente, inúteis ou tiveram sua utilidade apenas em algum momento específico, não precisava estar arquivado até hoje. Isso sem falar nas informações importantes que foram duplicadas, triplicadas ou quadruplicadas porque determinada pessoa não encontrou o arquivo original em meio a tandos outros. Era mais fácil “salvar” um novo arquivo que perder tempo procurando por algo similar.
O exemplo acima serve apenas para nos lembrar de como o espaço de armazenamento de informações passou a não ser mais visto como um problema, e isso nos têm levado a acumular o chamado “lixo virtual” o que tem trazido problemas para empresas, de todos os portes, e pessoas comuns como eu ou você. Ao escrever este texto me dei conta de que tenho mais de 50 e-books baixados em meu computados e ainda não lidos. Isso não seria um problema se eles já não tivessem mais de seis meses que estão lá aguardando eu ter tempinho para dar uma “olhada” neles. Alguém me disse, certa vez, que “se você tem um arquivo que não acessa há mais de seis meses, delete”. Claro que eu não sou tão radical, mas devemos pensar um pouco sobre isso, já que o mundo em que vivemos é tão dinâmico e algumas das informações que guardamos hoje, certamente, não valerão de nada daqui a 6 meses (ou menos).
Na busca por tentar me livrar do lixo virtual, ou, pelo menos, fazer com que ele não aumente em meus computadores, criei uma espécie de filtro e regras que aplico antes de salvar um arquivo ou instalar um novo programa:
- Me faço a seguinte pergunta: Isso é realmente importante, precisarei dessa informação em curto prazo? Eu diria que 60 ou 70% das respostas são “não”. Em caso positivo, vamos ao item 2;
- Isso pode ser salvo como um link nos favoritos do navegador ou uma citação na agenda ou bloco de notas? Se “sim”, faço isso e não “baixo” o arquivo, se “não” vamos aos itens seguintes;
- Crie pastas que identifiquem bem o assunto a que se referem. Evite pastas genéricas, do tipo “Meus Documentos”, pois isso dificulta encontrar os arquivos no futuro;
- Dê um nome que identifique claramente ao arquivo utilizando não mais que 50 caracteres, mas evite acentos e caracteres especiais. Isso evitará que o nome do arquivo seja modificado quando fizer uma cópia de segurança, por exemplo, e tornará a identificação mais fácil;
- Se possível, crie um padrão para nomear os arquivos;
- Monitore suas pastas periodicamente e apague aqueles arquivos que já perderam sua utilidade.
Por último, mas não menos importante, quero lembrar da atenção que devemos dar às imagens e vídeos que inundam nossos smartphones, tablets e desktops. É muito comum que seu smartphone esteja conectado a algum disco virtual para arquivar automaticamente suas fotos e vídeos. Até aí tudo bem, só que você deve lembrar que, nem sempre, apagando a imagem do disco do celular, ela também será apagada na “nuvem”, via de regra, não é isso que acontece, então, de vez em quando, vale a pena dar uma olhada em sua conta no GoogleDrive, OneDrive, DropBox, ou outro que utilize e fazer uma faxina, limpando aqueles vídeos que não importam mais ou as fotos mal tiradas que deletamos nos dispositivos móveis e que foram “backupeadas” sem que nos déssemos conta disso.
Existem outras formas de lixo virtual, claro, contudo, se fôssemos falar de todas elas aqui isso deixaria de ser um artigo para se tornar um livro, pois estamos cercados de todo tipo de informações desnecessárias e somos bombardeados com uma infinidade de e-mails maliciosos, imagens, vídeos e propagandas que não nos interessa, ou nada nos acrescenta, e cabe a nós separar o que nos é útil daquilo que deve ficar fora das nossas vidas e dos nossos “drives”.