Entendemos que o conjunto de valores corporativos é um reflexo do ambiente de trabalho e da forma como a empresa orienta suas decisões diante das adversidades do mundo dos negócios.
Uma das adversidades é a falta de preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade, palavra essa que não está apenas ligada diretamente à beleza natural da nossa fauna e flora, mas a uma importante posição de responsabilidade e valor, que ganha cada vez mais fôlego nas atuais gestões corporativas no Brasil e no mundo.
Nesse caminho, o Brasil se destaca por participar de todas as sessões da negociação intergovernamental desde da ECO+92, no Rio de Janeiro, além de estar em consonância com a Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Organizações das Nações Unidas (ONU).
Para entendermos melhor a importância desse tema, convidamos o Thiago Viana, da Viden Projetos Ambientais e Sustentabilidade, especialista no assunto e parceira da Prime & Llonk, para um bate-papo esclarecedor.
Hoje, qual é a situação mundial em relação a Agenda 2030?
Thiago: A agenda 2030 foi uma consequência natural da Agenda 21. Esta última foi assinada pelos países membros da ONU durante a Eco92, no RJ. 20 anos depois, na conferência Rio+20 (2012), teve início o trabalho que culminou com a adoção pelos países membros da ONU da Agenda 2030. Em setembro de 2015, representantes dos 193 Estados-membros da ONU se reuniram em Nova York e reconheceram que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são o núcleo da Agenda e deverão ser alcançados até o ano 2030. Eles tratam dos principais assuntos para a sustentabilidade, como pobreza, resíduos, água, alimentação, igualdade social e de gênero, além do combate às mudanças climáticas.
De que forma os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável norteiam o trabalho da Viden?
Thiago: A Viden Projetos Ambientais e Sustentabilidade é uma especialista na aplicação de metodologias para estimar, relatar e monitorar emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa. Além disso, somos responsáveis pelo gerenciamento de vários projetos que visam reduzir emissões de GEE e atuamos também na comercialização de offsets para neutralização destas emissões. Sendo assim, somos facilitadores do Objetivo número 13: “Combate às alterações climáticas”.
Dos 26 estados (e Distrito Federal), 16 possuem legislação específica para Mudanças do Clima [Fórum Clima]. Rio de Janeiro e São Paulo já possuem metas estaduais de redução de emissões e requerem uma declaração anual corporativa da quantidade de emissões de GEE. Em relação a essa tendência nacional, como a Viden pode facilitar o processo de implantação de desenvolvimento sustentável dentro de uma empresa?
Thiago: A Viden pode ser vista como uma parceira. Além do objetivo 13, nós buscamos também nortear a nossa atuação dentro do objetivo 12 (Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis) e também o Objetivo 16 (Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis). Ou seja, somos incentivadores agressivos de gestão sustentável e consumo responsável, além de praticar a tomada de decisão responsiva, inclusiva, participativa e representativa em todos os níveis. Entretanto, tratando especificamente do nosso núcleo de operações, a Viden atua como uma facilitadora de gestão sustentável ao analisar toda a atividade operacional da empresa com dentro do viés do combate às alterações do clima no mundo. A tarefa dos nosso parceiros seriam a de nos auxiliar a esmiuçar sua operação para, após uma análise das suas atividades e diagnosticar suas emissões de gases de efeito estufa corporativas, a Viden ser capaz de tornar a empresa Carbono Zero em um primeiro momento e estabelecer um plano de ação para os períodos posteriores.
Os “serviços essenciais” propiciam uma tomada de ação contra a mudança global do clima? O que isso significa exatamente para empresa?
Thiago: Vantagem Competitiva (é uma tendência tanto local quanto mundial a tomada de ação dentro desta agenda, com inúmeros exemplos), Melhoria nas Relações Corporativas (valorização da marca e da relação com clientes, fornecedores e colaboradores) e Economia de Recursos (baixo custo inicial e define uma estratégia eficiente).
Relate um “case” e como funciona sua estruturação de projetos de compensação de emissões no curto, médio e longo prazo.
Thiago: Há casos que podem ser relatados em vários níveis dentro desta atuação. Tratando-se especificamente de um caso bem inicial, posso citar inúmeros exemplos de empresas que começaram a gerenciar suas emissões de gases de efeito estufa corporativos e hoje em dia possuem metas de emissão agressivas em consonância com os acordos de paris (sucessor do protocolo de Quioto). Ou seja, o entendimento do perfil de emissões da sua empresa possibilita uma visão macro de qual atividade da empresa está resultando nas maiores emissões e como a empresa poderia reduzir estas emissões (com grande potencial aqui de melhoria de eficiência e redução de custos).
O processo em um escritório, por exemplo, visa mapear na operação todas as necessidades (vai desde quantificar o consumo de energia até, dependendo da intenção da empresa, uma escolha consciente de qual tipo de papel será usado ou de qual produtora o papel será comprado), mapear os produtos e serviços (a empresa faz uso de algum tipo de transporte terceirizado para levar seus produtos aos clientes? a empresa monitora a quantidade de resíduos gerados na operação?) e a atuação dos colaboradores dentro do exercício das suas funções (como o colaborador se desloca no dia a dia para o trabalho? e para reuniões e viagens?). Todos estes pontos são potenciais fontes de emissões de gases de efeito estufa e podem ser avaliados criticamente dentro de um inventário. Em um primeiro momento, assim que forem identificadas as emissões, elas serão neutralizadas (ou seja, a empresa se torna carbono zero). Entretanto, este não é o objetivo final, em um cenário ideal. O objetivo passa por uma melhoria contínua da gestão empresarial na ótica da sustentabilidade, que neste momento está focando nas mudanças climáticas. Por exemplo: alguma destas fontes pode ser mitigada? alguma atividade pode ser feita de alguma forma mais sustentável e a empresa continuar atuando de forma ótima? Com isso, a empresa pode desenvolver estratégias de gestão das suas atividades e ser reconhecida por esse respeito à sustentabilidade tanto para fora quanto para dentro da empresa.
É um trabalho muito complexo, mas após ser bem feito e de forma detalhada, a empresa passa a ter uma ferramenta poderosa em suas mãos.
Em outra parte, neste momento inicial, ao utilizarmos offsets de um mercado reconhecido internacionalmente (Protocolo de Quioto), fornecemos confiabilidade ao processo. Utilizaremos, sempre que possível, projetos brasileiros conduzidos de forma responsável.
Outras etapas podem ser almejadas posteriormente, como uma auditoria externa do inventário, um plano de mitigação de emissões, o desenvolvimento de estudos de eficiência energética e/ou de consumo de água, entre outros.
Uma empresa com “Certificado de Emissão” é uma empresa do futuro?
Thiago: Inúmeras empresas já escolheram o caminho da sustentabilidade, ou seja, isso já é uma realidade. Nossas leis estão caminhando nesta direção, tanto nacionalmente quanto internacionalmente. Entretanto, mais do que nos anteciparmos a leis, penso que deveríamos nos antecipar à nossa própria consciência, na nossa visão de mundo atual e do mundo que queremos. A sustentabilidade é uma realidade em todos os níveis, seja ele pessoal, corporativo ou nacional.
Funcionários insatisfeitos ou sentindo que são tratados de forma injusta não são sustentáveis, da mesma forma que um meio ambiente insatisfeito com a quantidade de gases de efeito estufa despejados atualmente na atmosfera não deve gerar bons resultados. Gerando uma massa crítica de empresas conscientes e atuando dentro dos ODS nos possibilita ter força para pleitear atuações de outros níveis, partindo do micro para o macro. Ter um retrato da contribuição das atividades de uma empresa para as mudanças climáticas e neutralizar estas emissões internamente ou através do financiamento de projetos de redução de emissões, neste primeiro momento, é o mínimo e apenas um primeiro passo para um mundo melhor.
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